Entrevista de Terça — Gilson Luis da Cunha

Henrique Sanches
7 min readDec 14, 2021

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Gilson Luis da Cunha.

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Olá Pessoal…
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Nosso entrevistado de hoje é o escritor Gilson Luis da Cunha, autor de livros e contos de Ficção Científica.
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O Gilson faz parte do Selo #saifersbr e nesta entrevista, conversamos sobre esta iniciativa da F. C. nacional, sobre a antologia que foi lançada sábado passado, sobre seus livros escritos e suas fontes de inspiração, e muito mais.
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Bora lá, conhecer um pouco o @gilsondacunha42!
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Bem-vindo, Gilson!!!
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Obrigado por topar participar desse projeto!!!
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Olá! Obrigado a todos por sua leitura!
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P1 — Gilson, como foi seu contato com a Literatura? Você sempre foi um bom leitor?
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R1 — Eu me iniciei na leitura com as histórias em quadrinhos da Disney, ainda durante minha alfabetização.
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Depois, passei para histórias de super-heróis, Marvel e DC.
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Comecei a me interessar por livros mesmo na pré-adolescência, ao descobrir que muitos filmes não eram criações originais, mas sim adaptações de obras literárias.
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A curiosidade me levou a conhecer as fontes. E sempre fui apaixonado por aventuras, relatos de viagens, ficção científica, qualquer coisa que me tirasse do aqui-agora.
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P2 — Eu também curti bastante gibis da Marvel/DC. Você tinha algum personagem preferido?
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R2 — Eu curtia o homem aranha, talvez porque já houvesse desenho dele na TV e, também por ele ser “zoeiro”.
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Adorava aquela técnica dele de irritar os adversários com piadinhas para fazê-los perderem a concentração.
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P3 — Como foi que a ficção científica entrou na sua vida de leitor? Pelo cinema/TV ou pelos livros mesmo?
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R3 — TV, cinema e livros, nessa ordem.
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No início era um apelo estético, com as obras audiovisuais. Mas descobri a fonte das ideias e fui atrás.
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Infelizmente, demorei para conseguir ler o que queria. As bibliotecas a que eu tinha acesso não eram tão variadas. Assim, eu lia o que caía em minhas mãos.
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Por exemplo, fui ler “A Máquina Do Tempo”, muito depois de ter lido “2001-Uma Odisseia no Espaço”.
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Eu adorava ler a seção de livros dos jornais, mas encontrar o que eu queria para ler era outro papo.
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Pensei que as coisas melhorariam com o advento do Círculo do Livro, mas a distribuição, ao menos para mim, era bem deficiente.
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Um Cântico Para Leibowitz”, por exemplo, é uma edição do Círculo que eu queria, mas só fui conseguir esse livro num sebo, e na edição original dos anos 60, ainda por cima.
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Quando esse livro foi reeditado, comprei a nova e mantive a original só para colecionar. Mas posso dizer que me tornei leitor assíduo de ficção científica nos anos 80, após ler ótimos livros sobre o gênero, o de Bráulio Tavares, o de Gilberto Schoereder e o de Raul Fiker.
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Além de excelentes livros sobre o tema, eles continham guias de leitura maravilhosos, que instigavam minha imaginação e minha vontade de ler.
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Depois disso, não parei mais. Assim que aprendi inglês o bastante, comecei a procurar obras de autores anglófonos também.
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P4 — Quando você fala de TV, foi nessa época que você conheceu Star Trek? Conta pra gente, você faz parte da Frota Estelar?
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R4 — Assisti meu primeiro episódio de Jornada Nas Estrelas, como era chamado em português, em 1970, com cinco anos de idade e fui fisgado.
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Vi numa TV preto e branco com sinal fraquíssimo e cheia de “fantasmas” e “chuviscos”, pois estávamos na praia e, naquela época, o sinal da maioria das emissoras de TV era muito fraco no litoral do Rio Grande do Sul, mesmo com as repetidoras.
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Foi amor à primeira vista.
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Já fui parte de um grupo de Trekkers de Porto Alegre, mas não sou parte da Frota Estelar.
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P5 — Gilson, de uma forma geral, quais são seus autores de ficção científica prediletos?
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R5 — Eu adoro Harry Harrison por sua versatilidade. Ele vai do épico ao cômico com uma desenvoltura que poucos possuem.
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Gosto Arthur C. Clarke pelo “sense of wonder”, aquele encanto que nos faz ficar em contemplação, horas, dias após a leitura.
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Gosto de Phyllis Gotlieb pela inventividade dessa autora, que conseguiu fazer, por exemplo, uma história usando as leis de Mendel da genética clássica, e ainda tornou a trama interessante com isso.
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Gosto de vários autores e autoras.
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Uma que li recentemente e me impressionou foi Claire North, de “As Primeiras Quinze Vidas de Harry August”, por criar uma das tramas mais envolventes que já li.
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P6 — Dentro da FC, tem algumas obras que são essenciais para entender este gênero literário? Você recomenda algumas?
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R6 — Sim. Há em português alguns excelentes livros, tais como “Ficção Científica”, de Gilberto Schoereder,
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“O Que É Ficção Científica?”, de Bráulio Tavares, “Ficção Científica: Ficção, Ciência ou Uma Épica de Época?”,
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e dois livros, que curiosamente, tiveram o mesmo título em português: “No mundo da Ficção Científica”, O primeiro é de L. David Allen.
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O segundo é de Isaac Asimov.
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E o recente “A Verdadeira História da Ficção Científica”, de Adam Roberts.
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P7 — Quanta dica valiosa!!! Anotei todas aqui… Da leitura para a escrita, Gilson, quando você se descobriu como escritor? Você tinha planejado escrever ou aconteceu?
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R7 — Acho que eu sempre soube. Mas não imaginava que houvesse a oportunidade de escrever esse gênero. Não no Brasil.
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Eu já havia tentado escrever um romance com 16 anos. Pelo bem da humanidade, eu o queimei.
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Era raso, em todos os sentidos. Nos anos 80, li um editorial de Isaac Asimov em seu livro “No Mundo da Ficção Científica” onde ele dizia: “se você não gostou do final, tente escrever sua história”.
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Segui o conselho dele e publiquei meus dois primeiros contos na Antologia “Escreva-se: Antologia Universitária 1987”, da editora da UFRGS, destinada a autores da comunidade universitária (alunos, professores e funcionários).
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Mas a vida acadêmica não permitiu que eu voltasse a escrever continuamente.
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Só voltei seriamente em 2012. Desde então, tenho participado de uma série de antologias e publiquei dois romances, sendo um deles “Onde Kombi Alguma Jamais Esteve”, ganhador do Prêmio Argos 2020.
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P8 — Muito bacana esse seu reencontro com a escrita, Gilson. Nós ganhamos muito com isso!!! De 2012 para cá, você escreveu bastante livros? Conta um pouco sobre eles para a gente.
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R8 — A maior parte do que escrevi foram contos e noveletas, principalmente para desafios literários, alguma coisa para o Wattpad e, principalmente para ebooks Amazon Kindle.
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Livros solo, apenas “Onde Kombi Alguma Jamais Esteve”, “A Era dos Milagres” e “O Curioso Caso de Cthulhu e Cremilda”.
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P9 — Gilson, quem tiver interesse em comprar seus livros, onde podem encontrá-los?
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R9 — Na loja kindle da Amazon e livros físicos comigo, com mensagens privadas para meu perfil de Instagram @gilsondacunha42 ou no meu facebook Gilson Cunha.
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P10 — Sobre o #saifersBR, como é fazer parte de um grupo de pessoas que leem, produzem conteúdos e escrevem sobre ficção científica?
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R10 — É muito bacana poder ver a variedade de ideias e criações e estar tão perto de gente talentosa como esses criadores, conhecer seu modo de pensar, sua estética, os insights de cada um.
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É uma experiência enriquecedora.
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P11 Iniciativas como a #SaifersBr são importantes para a F. C. nacional e principalmente para apoiar a escrita de Autoras/Autores Independentes, certo? Pela sua experiência de escrita Gilson, podemos dizer que existe público no Brasil para consumir F. C.? Como você sente este mercado?
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R11 — O mercado literário é um nicho. E o de ficção científica é um nicho dentro de um nicho.
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Mas, sabendo procurar, nós encontraremos leitores. Tenho visto grupos expressivos de apaixonados pela ficção científica que estão descobrindo que não são os únicos que gostam do gênero.
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É quase como se todos vivêssemos em ilhas distantes umas das outras e, de repente, começássemos a nos visitar e trocar histórias.
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Pode ser lento, a princípio. Mas está acontecendo.
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P12 — Ainda sobre os #SaifersBr… lançamos uma Antologia no sábado passado, 11 de dezembro. Como foi essa experiência para você? O que os leitores vão encontrar nessa Antologia?
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R12 — Eu adorei o convite para participar. Achei o tema desafiador e acredito que os leitores irão se surpreender com essa “reimaginação” de lendas de nosso folclore rural e urbano.
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Não se trata, de modo algum, de negar as lendas e criaturas dos mitos populares, mas de lançar um olhar que, provavelmente, jamais ocorreu na literatura fantástica brasileira.
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P13 — Personagens de F. C. nacional sofrem preconceito por causa dos seus nomes: Alfredão, Benedita, Cremilda, Tobias, Ester, Joana, André Almeida, Vitória, e tantos outros… Se você fosse mandar um recado para os leitores que têm preconceito em ler F. C. nacional, qual seria?
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R13 — Esqueça a “síndrome do Capitão Barbosa”. O futuro é de todo mundo e isso inclui TODO mundo mesmo.
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Veja o caso da série de TV e de livros de The Expanse. No sistema solar há gente de todas as etnias e culturas, misturadas num grande caldo cultural.
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Há gente de fenótipo africano com sobrenomes asiáticos, dando a entender que houve séculos de miscigenação. Essa é a história da humanidade.
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Como já dizia Orson Scott Card (que usa personagens de origem brasileira em seus romances): O futuro não será habitado apenas por nativos do Kansas.
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Acho que é por aí.
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P14 — Para finalizar Gilson, quero agradecer imensamente sua generosidade em compartilhar tanta coisa com a gente! Obrigado! Este espaço é seu. Fique à vontade para considerações finais, pode mandar seus recados!
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R14 — Eu é que agradeço essa oportunidade de falar aos leitores. Divulgadores como você fazem toda a diferença.
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Também gostaria de agradecer aos amigos do SAIFERSBR por todo apoio e confiança e pelo convite para integrar essa iniciativa.
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E, claro, gostaria de deixar meu muitíssimo obrigado aos leitores que fazem esse inestimável serviço, que é a “propaganda boca-a-boca”.
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Hoje em dia, na era das redes sociais, talvez não exista recurso mais valioso para um autor do que essa cortesia dos leitores.

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