Entrevista de Terça — Maikel Rosa

Henrique Sanches
10 min readSep 14, 2021

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O escritor Maikel Rosa!

Entrevista de Terça.

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Olá Pessoal, boa tarde…

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Nosso convidado para a Entrevista de Terça dessa semana, é o escritor Maikel Rosa do perfil @escritor.scifibr

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E essa conversa foi muito boa gente. Falamos sobre leituras e livros favoritos; sobre a escrita e livros editados; sobre o selo #saifersBr e a escrita independente, sobre novos projetos e muito mais…

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Bora lá, conhecer um pouco do @escritor.scifibr?

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Maikel, seja bem-vindo.

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Obrigado por topar participar desse projeto!!!

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Meu amigo, eu não via a hora de aparecer aqui no seu cantinho! Te admiro demais e quase tive um treco quando recebi o convite, é uma grande honra

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E aí, povo que acompanha o perfil maravilhoso do Henrique, tudo bem com vocês?

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Maikel, conta pra gente, o que significa a Literatura para você?

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Não sei como seria minha vida sem ela, de verdade. Tive uma infância solitária, sem irmãos da minha idade, então a literatura foi meu refúgio por muito tempo.

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Hoje é minha companheira inseparável também na escrita

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Você lê bastante? Quando foi que você percebeu, leitor?

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Sempre fui daquelas crianças chatas que atazanam todo mundo com perguntas sobre tudo. Minha mãe ficava tonta comigo. Assim, ler foi a forma perfeita de encontrar autonomia no meu aprendizado, mudou tudo na minha relação com o conhecimento. Ganhei uma intimidade que virou autodidatismo.

Então, li muito na infância e adolescência, mas tive um longo hiato na fase adulta por causa da pressão do nosso modelo social, que nos faz dedicar nossas melhores horas pra quem só quer saber de empregados mais eficientes, não de pessoas mais realizadas.

Quando rompi com esse modelo, há cerca de dois anos, consegui retomar a leitura com todo o gás. Hoje, felizmente, voltei a ser um devorador de livros!

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Gosto dessa autonomia no aprendizado, que só a leitura pode nos dar, não é? O que uma história tem que ter para “te ganhar” como leitor?

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Em primeiríssimo lugar, personagens verossímeis. Não tem coisa mais chata do que ler uma história onde eles são rasos, sem emoção ou com reações que não refletem a natureza humana. Não importa se você cria um robô, um dragão ou um crítico de cinema sofrendo uma crise existencial. A gente precisa se sentir conectado com a criatura.

Em segundo lugar, eu diria que um enredo honesto é indispensável. Digo isso no sentido de que toda história é uma promessa, e portanto deve entregar algo em troca do tempo que o leitor investiu nela. É horrível terminar uma narrativa com a sensação de ter sido engambelado.

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Você falou sobre modelo social… essa relação entre eficiência e realização me incomoda também. Como é que a leitura pode romper com esse modelo? A leitura nos dá mais criticidade, por exemplo? Conta pra gente…

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Cara, que pergunta maravilhosa! Eu acho muito, muito triste uma vida sem leitura, não porque te torna menor, mas porque te priva da possibilidade de ser gigante.

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A pessoa que se limita apenas às narrativas de massa (TV, cinema, jornal) facilmente se torna refém das histórias que os grandes detentores desses meios querem contar.

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Quer dizer, não tem como questionar o que você absorve quando todo mundo ao seu redor está embebido na mesma trama. Eu exploro isso metaforicamente em “Rebanho”, inclusive.

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Entre os vários gêneros literários que conhecemos (ou não, rsrs), quais são os seus favoritos?

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Bem, se eu não disser que o preferido é ficção científica pode me tachar de maior impostor dessa rede social, hahahahahaha.

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Mas eu também gosto muito de ficções “da vida real”, obras de divulgação científica e livros “de humanas” (como sociopolítica e antropologia).

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E podem me apedrejar, mas odeio biografias

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E agora uma pergunta difícil, rsrs… se você tivesse que escolher livros favoritos? Quais seriam?

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Uff, essa pegou no estômago! É uma resposta cretina, mas sempre atualizo minha lista de favoritos a partir das leituras mais recentes.

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Ainda assim, tenho alguns que me marcaram pra sempre:

. “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll, por ser a primeira leitura de que tenho lembrança, e que me deixou completamente fascinado;

. “O gene egoísta”, de Richard Dawkins, porque pra mim resume de modo genial, a partir de um ponto de vista biológico, questões centrais sobre a evolução da sociedade;

.”O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, por usar o fantástico pra escancarar a vaidade como nosso pecado mais destrutivo;

. “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Brontë, porque realmente fodeu com a minha cabeça na época da adolescência, rsrs… (Pode falar “fodeu” aqui?)

. Não vou citar nenhum de FC, porque daí é sacanagem com o tio! kkkkkk (p.s: leiam as resenhas scifi no meu perfil).

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Rsrsr… claro que!!! Entrevistado pode tudo…

De leitor para escritor, Maikel, foi uma transição tranquila? Como você encara a escrita? É um hábito, uma necessidade?

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Pra falar a verdade, eu não sei quando e SE existiu uma transição.

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Embora só tenha assumido a minha “persona escritor” em 2020, aos 8 anos já adaptei uma pecinha de teatro a partir de uma HQ, aos 10 alimentava diariamente um caderno de poesias.

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Quando adulto, mantive por anos um blog privado com centenas de poemas livres, e há 15 anos lancei um livro de contos satíricos.

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Fora que a escrita sempre permeou minha vida profissional.

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Sendo assim, eu diria que ela é indiscutivelmente parte do que eu sou.

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Mike, isso é muito bonito, cara. A escrita “ser parte de você”. Bonito e forte. Obrigado por compartilhar com a gente… E fica a pergunta, sendo assim, o que te motiva a escrever?

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Sendo muito sincero? Não faço ideia. É um desejo inato de contar histórias.

Simplesmente me deixa feliz

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E a relação que existe entre seu perfil no Insta e os livros? Você criou já pensando nisso? Em falar de livros?

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Na verdade comecei isso no meu perfil pessoal, como uma terapia.

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Sentia essa necessidade de processar e “fotografar” as emoções que os livros me traziam, então comecei a produzir resenhas de todas as minhas leituras. Mas aí percebi que falava com as paredes, o engajamento lá era muito baixo e eu não via eco das impressões que eu compartilhava.

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Criar um perfil literário mudou isso da água pro vinho, além de ser mais apropriado pra divulgar meu trabalho como escritor. Hoje passo muito mais tempo aqui do que no meu outro perfil

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Essa questão do engajamento é o que mais me atrai no Instagram. Então, neste perfil literário você começou a escrever resenhas e também a divulgar seus livros. Conta para a gente sobre seus dois primeiros livros?

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A vespa esmeralda” foi uma experiência muito inusitada! Começou como uma brincadeira: criei um perfil no Instagram e convidei as pessoas a acompanharem a história enquanto escrevia.

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Eu lançava um capítulo a cada 2, 3 dias, e a galera podia vibrar junto, reagir, opinar. As reações eram um termômetro pra eu conduzir o enredo. Só quando estava chegando no fim decidi que publicaria como um livro, porque percebi que tinha algo bacana nascendo ali. Lancei na Amazon em seguida e um ano depois fiz a tiragem física!

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Rebanho” também veio de um jeito inesperado. Um dia acordei de um sonho perturbador, em que eu era outra pessoa e havia centenas de sósias minhas morrendo ao meu redor, vítimas de um sangramento misterioso. Juntei isso com algumas questões político-filosóficas que vinham me atormentando e escrevi o conto.

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E sobre o livro que você lançou no último sábado? Teve até Live de lançamento com o Rogério Pietro… Conta tudo para gente!!!

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Nossa, tô muito empolgado com esse lançamento! “Colmeia de vidro” tem uma carga emocional muito forte pra mim, porque coloquei muitos dos meus dilemas e questionamentos neste romance.

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Eu diria que é um scifi “raiz”, porque traz várias referências tecnológicas e transumanistas, mas como tudo que eu escrevo ele desperta discussões sobre alguns modelos sociais — neste caso, à dicotomia liberdade versus igualdade e às ideologias que herdamos sem questionar.

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Brinquei com muitos conceitos que estão em pauta nos dias atuais, como personagens sexualmente diversos, cérebros conectados à internet, direitos sobre o corpo, upload de consciência, medidas extremas de contenção a pandemias, novas formações geopolíticas e o futuro do alimento. Não poupei referências, rsrsrs.

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Na live com o @autor_rogeriopietro falamos um pouco sobre isso e também sobre um movimento literário pro qual ele ajudou a dar tração no Brasil, o Amazofuturismo.

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Por enquanto “Colmeia de vidro” tá só em e-book, dá pra acessar fácil na Amazon pela minha bio

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Para quem não sabe, você é o idealizador do Selo SaifersBr. O que é esse Selo? De onde veio essa vontade de juntar autores e produtores de conteúdo?

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Eu não canso de contar essa história, hahahahaha.

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Um dia estava eu tomando banho, pouco antes de uma reunião com a Daniela do @blogsabeoque sobre projetos literários, e me lembrei de uma ideia que há algum tempo vinha me cutucando.

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Como autor solo, eu sentia falta de uma “marca” que servisse como referencial pra leitores de ficção científica nacional independente, algo que reunisse outros escritores e facilitasse o acesso a novas narrativas fora do mercado editorial tradicional.

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Expus minha ideia a ela que, como uma baita conhecedora desse nicho, entendeu que teria um eco relevante entre o público que consome essa literatura.

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Dali pra frente, a coisa foi que foi: convidamos outros criadores de conteúdo afins (como você e a @letras.cadentes) e alguns autores pra discutir a fundo sobre a iniciativa. A galera topou de cara e, desde lá, o selo @saifers.br tem sido uma aposta maravilhosa!

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Já que começamos a falar dos escritores independentes, você sente que estamos consumindo mais material nacional? Você acha que dá para sobreviver de livros em nosso país? Você sonha em viver somente da escrita? Muitas perguntas, hein? rsrsrs

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Esse universo é bem especulativo mesmo, mas vale a reflexão. O que eu posso dizer é que tenho visto um movimento legal de leitores buscando autores daqui, mas não dá pra ignorar o fato de que vivo dentro de uma bolha literária.

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Não sei se isso realmente se reflete em termos de projeção nacional, mas de qualquer modo é visível que ainda existe muito trabalho pela frente.

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Só pra ter uma ideia, em 2012 estimava-se que havia pelo menos 50 milhões de escritores no país (distribuídos em todos os gêneros).

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Não tenho dúvidas de que esse número mais que triplicou durante a pandemia, mas metade da nossa população ainda não tem o hábito de ler (segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, feita pelo Instituto Pró-Livro), e a leitura da Bíblia sozinha representa 35% desse montante.

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Ou seja, essa conta não fecha nem no dia do juízo final.

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Sendo assim, respondendo à tua pergunta sobre viver da escrita no país, eu diria que sou “realista demais” pra sonhar com isso

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Mike, e projetos futuros? Tem novidades pintando por aí? Na Live você disse ao Rogério que já está escrevendo mais um livro…

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Siiim! Já tô trabalhando no próximo

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Vai ser uma coletânea de contos em torno de um personagem que surgiu pra mim durante a escrita de “Colmeia de vidro”, uma andróide metamorfo que tem um “emprego” bem peculiar.

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A ideia é que cada conto seja centrado em um de seus “contratantes”, de forma a explorar as características e motivações dessas pessoas. Pretendo escrever este com mais calma, então acho que a publicação só sai em 2022.

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Meu amigo, chegamos ao final. Saiba que é uma honra fazer parte do Selo junto com você e toda a turma e uma honra ter você aqui neste projeto de incentivo a leitura. Espero que você tenha gostado da experiência, pois eu adorei. Agora a palavra é sua, fique à vontade. Obrigado!!!

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A honra é toda minha! Eu nunca imaginei que me aproximaria tanto de pessoas tão fodásticas, e em torno de algo tão genuíno.

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Agradeço muito por ter conhecido você, a @blogsabeoque, a @letras.cadentes e os meus colegas escritores @aelitalear, @autor_rogeriopietro, @daniel.o.barba, @gilsondacunha42, @leonardo_born, @fernando.rombola e @vinicanabarro, fora todas as outras pessoas desse universo que não para de se expandir!

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Henrique, muito obrigado por manter esse espaço tão precioso de visibilidade a outros autores e amantes da literatura, o trabalho que você faz aqui é importantíssimo e extremamente bem feito, pois você tem o dom de revelar o melhor das pessoas.

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Gratidão eterna, meu amigo!

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A gratidão é minha, meu amigo! Sucesso!!!

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1 — Disponível em: <https://www.instagram.com/henriquepsanches> Publicado no Instagram em 31 ago 2021.

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Henrique Sanches
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Written by Henrique Sanches

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