Entrevista de Terça — Mônica Amorim
Foi aqui que tudo começou, de uma conversa que virou entrevista!
Está entrevista foi publicada no meu insta @henriquepsanches no dia 03 de Setembro de 2019.
A Mônica gentilmente respondeu minhas perguntas e me mandou uma foto preto e branco. A partir dai, essa seria a marca registrada do quadro Entrevista de Terça.
Abaixo segue a entrevista.
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P1 — Oi Mônica, conta uma coisa pra gente… quais gêneros literários você gosta?
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R1 — Primeiro, Henrique, quero agradecer pela rica oportunidade de falar sobre meu encanto pela leitura. É meu assunto preferido! Aproveito também para dizer o quanto seu trabalho de incentivo à leitura é importante.
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Bem, sobre meu gênero literário preferido, posso dizer que é a poesia. Foi aos dezesseis anos que Drummond me fisgou para o mundo lírico com o poema ‘Cidadezinha qualquer’. De lá pra cá, a poesia passou a fazer parte da minha vida e da minha rotina de leitura.
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As pessoas não dão o valor real que a poesia ocupa na literatura. E estou falando, com base em estudos, de seu valor para a cognição do ser. Sabe-se que a poesia demanda um outro olhar, que vai além do que está escrito.
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Trata-se de uma leitura árdua. O leitor precisa entender linguagem figurada.
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A linguagem poética é diferente da prosa, é quase um texto a se traduzido. Sim, podemos dizer que a poesia coloca o leitor em outra dimensão, de elevação cognoscível, de ganho intelectual.
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P2 — Qual seu livro favorito, Mônica? Você indica ele para a gente?
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Até agora, meu livro preferido é ‘A elegância do ouriço’, de Muriel Barbery, o qual já li duas vezes. Quanto a indicar leituras, é algo meio complicado.
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Depende muito em que parte do percurso de leitor uma pessoa se encontra. A maioria dos leitores anda numa busca frenética por livros que lhe prendam a atenção. Desejam que a história se desenrole rapidamente. Bem, ler também é se demorar na palavra lida. É deixar aquela leitura decantar dentro de nós.
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Este livro de Muriel Barery significa isso pra mim: uma bela história sobre as
letras e a arte, desenhada com recursos estilísticos, contando com personagens banhados por uma semântica respeitosa e delicada.
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Gosto de pensar que o escritor está entregando o seu melhor ao leitor e a autora fez isso com primazia. Isso me encanta, sabe?
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Quando um escritor se esmera até sua escrita virar obra de arte. E nenhuma obra de arte merece ser degustada às pressas. Outro livro maravilhoso e que amo é ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis.
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P3 — E seu livro de cabeceira ultimamente?
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Livro de cabeceira? Ah… Tenho vários! Um deles é ‘Mulheres que correm com os lobos’, da grandiosa Clarissa Pinkola.
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É o livro que toda mulher deve ter e pra onde deve ir todos os dias, como quem entra em seu próprio jardim secreto.
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A autora, que é psicanalista étnica, apresenta várias histórias universais, oriundas de conto de fadas, mas com uma interpretação psicanalítica, desmistificando o que foi propositalmente contado a nós por gerações.
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É um verdadeiro mergulho no sagrado feminino. O livro provoca reflexões e acende uma busca interna muito rica. É bom lembrar que, apesar de parecer uma leitura voltada apenas à mulher, o livro possui material para o entendimento das relações humanas.
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Outro livro de cabeceira é o livro ‘Escritos’ de Jacques Lacan. Tem sido meu companheiro diário e desconfio de que será por muito tempo, pois são mais de 900 páginas. Gostaria também de contar aqui neste espaço que minha relação com os livros é muito livre. Pra mim, mais importante do que ler muitos títulos, é ler bem o que se propõe a ler.
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Prefiro sempre qualidade à quantidade.
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P4 — Além de leitora, você gosta de escrever, né? Conta um pouquinho pra gente sobre suas escritas…
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Bem, como eu disse inicialmente, falar sobre livros, leitura, escrita, enfim, é fascinante.
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Sou aquela leitora boba, que cheira livros; que lê em ônibus, metrô, cafés; que risca as partes mais importantes do livro; que gostaria que todo mundo lesse.
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Tenho minha biblioteca particular e sempre estou a me interessar por novos títulos. Como escritora, preciso de inspiração.
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E, como todo mundo sabe, um escritor deve manter o depósito de inspirações transbordando!
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Não sei precisar onde termina a leitora e começa a escritora em mim. É um processo que acontece ao mesmo tempo. Estou falando isto porque para escrever, não basta vontade.
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É preciso nutrir uma paixão pela leitura e se alimentar disto. E é neste ponto que surge a demanda pela escrita. Minha relação com a escrita começou na adolescência, mas sempre tive receio de mostrar o que escrevia.
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Em 2007, montei um blog e em 2010 meu primeiro livro, ‘A nuvem vermelha’, foi publicado na Bienal Internacional em São Paulo.
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Hoje escrevo textos em forma de pílulas em minha página no Instagram. Já participei de algumas antologias, contribuindo com poemas e contos. Também tive crônicas publicadas em revistas.
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Quanto à escrita, ela não é propriamente um ‘’gostar’’. Ela tomou peso de vida pra mim. Demorei muito tempo para admitir isso e, hoje, escrever é a parte de minha existência que me
permiti viver. Não é exagero dizer que também lutei para ter esta liberdade de escrever. É um ato revolucionário. E como bem disse Virginia Woolf:
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“Uma mulher, se quiser escrever literatura, precisa ter dinheiro e um quarto só seu.”
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Hoje, posso dizer que lutei para ser a mulher que escreve, numa sociedade que até aqui, só quiseram nos calar.
Mô Amorim 02/09/2019, Santos.