Entrevista de Terça — Adriana Campos

Henrique Sanches
12 min readFeb 1, 2022

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Adriana Campos

Entrevista de Terça.
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Olá Pessoal…
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Esta é a primeira entrevista do ano!!! A Adriana Campos é a nossa convidada da vez e aqui conversamos sobre fotografias, literatura nacional, sobre as leituras dela, e processos de escrita e muito mais. A Adriana tem um perfil muito bacana com fotos autorais e sempre textos bem cativantes, que valem a pena conferir…
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Bora lá, conhecer um pouco a @pensamentosdequinta?
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Bem-vinda, Adriana!!!
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Obrigado por topar participar desse projeto!!
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Obrigada a você Henrique pelo convite, embora tenha ressalvas quanto a sua escolha atual.
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É que conheci tanta gente legal, inteligente e talentosa nesse seu espaço, que considero um sacrilégio eu ocupar o mesmo posto que eles.
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P1 — Conta para a gente o que a literatura representa para você, Adriana?
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R1 — Literatura é a minha extensão, o prolongamento do meu ser, é meu jeito de ocupar mais espaço, viver mais vidas, descobrir mais mundos… é uma das maneiras de continuar vivo depois que se for.
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Aos 13 anos li: “Meu Epitáfio”, de Cora Coralina e entendi que escrever te torna imortal.
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O trecho final diz: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos”.
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Deve ser por isso que os ocupantes das cadeiras da Academia Brasileira de letras, são chamados de Imortais… rs
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P2 — Adriana, você lê muito? Você se lembra de como sua vida de leitora começou?
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R2 — A minha vida de leitora possui duas fases bem distintas.
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Ela começa na primeira infância, pois eu tive a sorte de morar numa casa cheia de livros. Um dos meus tios fazia parte do clube do livro, isso nos anos 70/80, e ele sempre incluía nas suas aquisições livros infantis, então eu tinha coleções intermináveis de contos para crianças de diversas partes do mundo.
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Depois, por volta dos 10 anos, minha mãe foi morar num sítio, que ficava num distrito que pertencia a um município muito pequeno nos cafundós do Mato Grosso.
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A casa nova ficava longe de tudo e de todos que eu conhecia e de uma hora pra outra, me vi sem primos, amigos, só me restando os livros para ocupar meu tempo.

E aqui se inicia a jornada que me leva até a segunda fase.

No sítio não havia tantos livros, e na escola da pequena cidade a biblioteca tinha perdido o espaço para se tornar sala dos professores. Os poucos livros que sobraram foram parar na despensa da cozinha e não eram muitos.

Na mesma época, nas manhãs de sábado, passava na TV um programa chamado Globo Ciência.
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No final de cada programa havia uma chamada para um projeto chamado Ciranda da Ciência onde anunciava que a Fundação Roberto Marinho daria uma Biblioteca e a Bioquímica Hoeschst do Brasil, daria um kit de laboratório para as escolas que solicitassem. *

Lembro de ter ligado para a Fundação perguntando os requisitos da promoção e eles disseram que bastava apenas a manifestação da escola que poderia ser por carta, assinada pela diretora.

Levei essa informação para a direção da escola mas não me levaram a sério. Então eu escrevi uma carta manifestando o desejo de ganhar a biblioteca e pedi para que os professores, a Diretora e os alunos da minha sala também assinassem.
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Eu mesma coloquei a carta nos correios. Uns 6 meses depois chegou um caminhão na frente da escola para entregar a nossa Biblioteca e o laboratório.

Eu tinha entre 13 e 14 anos e li todos os livros dessa biblioteca e ela me apresentou os grandes clássicos da literatura nacional e mundial.
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Talvez eu não fosse amante do Camilo Castelo Branco, da Jane Austen e do Gonçalves Dias se não fosse essa biblioteca.
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P3 — Muito bom ter alguém que incentiva nossa leitura em casa, no seu caso, foi seu tio. Você costuma fazer isso? Incentiva a leitura em casa e no seu perfil no Insta?
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R3 — Eu amo ler, e como todo bom leitor eu adoro disseminar essa ideia, por isso na maioria das vezes eu presenteio com livros.
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Em casa minhas filhas e meu filho sempre tiveram suas bibliotecas pessoais.
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O Joshua tem um acervo com clássicos da literatura universal e adora ler.
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Quanto ao meu perfil, ele começou como um diário das minhas leituras, e um espaço para publicar alguns dos meus escritos, não tinha a pretensão de ser um espaço para incentivar a leitura, mas acabou se tornando um local de trocas.
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Eu descobri que as leituras que sempre foram óbvias para mim, não eram para muita gente, e em contrapartida eu estou descobrindo um universo de livros e autores que eram totalmente desconhecidos e estou adorando.
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P4 — Onde a Poesia se encaixa nessa história toda? Poesia é seu gênero literário predileto?
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R4 — Poesia já foi meu gênero literário favorito. O primeiro contato se deu através da poetisa Cora Coralina, que ao mesmo tempo me ensinou sobre representatividade.
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Pois ela foi a primeira pessoa que eu vi na televisão que era do meu estado. Eu tinha entre 8 e 9 anos e nunca tinha visto nada sobre Goiás na TV, sempre era São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
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Então de repente todos estavam parando para ouvir e ler seus escritos, aí fui atrás e descobri que dava para falar sobre coisas simples de um jeito diferente, enigmático…
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E foi por conta desse jeito poético de contar o simples que comecei a escrever poesias. No início era pra esconder da minha mãe minhas primeiras paixonites, pois sabia que ela lia meu diário.
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Sem amigas e primas, escrevia no diário meus sentimentos em forma de poesia.
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Hoje a poesia é catarse. Há situações e sentimentos que só consigo comunicar com a linguagem poética.
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P5 — Se a poesia não ocupa mais o pódio de suas preferências, qual é seu gênero literário favorito? Ou quais são? Rsrs
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R5 — Eu sou uma leitora de fases. Já tive minha fase Gótica — Vitoriana (O retrato de Dorian Gray), medieval (Dante AleghieriA Divina Comédia, Rei Arthur…).
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Essa fase foi tão forte que inclusive influenciou a minha vestimenta. Houve uma época que me fantasiava de “Camponesa”, bem ao estilo da corte do Rei Arthur e seus cavalheiros (não ria).
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Depois veio a fase da Mitologia e Fantasia com seus dragões, fadas e elfos (Senhor dos Anéis e Ciclo da Herança — Saga de Eragon)…
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Romance policial (Sherlock Holmes), Distopias (Crônicas dos MortosRodrigo de Oliveira).
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Enfim, sou uma típica leitora geminiana, leio de tudo. kkk
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Se tivesse que eleger um gênero literário, atualmente eu escolheria: Distopia e Sci Fi.
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P6 — E livros preferidos, Adriana, você tem? Indicaria esses livros para a gente?
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R6 — Livros favoritos são complicados de eleger, mas eu tenho sim alguns que inclusive não leituras recorrentes.
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O primeiro da lista, só eu e o próprio autor devemos gostar (risos) digo isso pois até o momento não conheço mais ninguém que tenha lido e gostado tanto.
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O livro é: “Amor de Perdição” — Camilo Castelo Branco. Li aos 15 anos, e talvez por ser uma história de amor juvenil, não concretizado, ao melhor estilo Romeu e Julieta, tenha me impactado tanto.
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Perdi as vezes que reli esse livro e em todas as vezes eu choro copiosamente no final.
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Também amo: “O Pequeno Príncipe” — Antoine de Saint-Exupéry — Eu me lembro de assistir na TV ao Miss Universo com a minha tia, aos 7 anos e quando perguntavam às candidatas qual seu livro preferido, O Pequeno Príncipe, era o livro de cabeceira delas.
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Eu leio-o desde os 10 anos e o significado da história muda conforme eu envelheço.
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Depois vem Vintém de Cobre — confissões de AninhaCora Coralina — Outro livro muito bom, mas que para mim tem um significado gigantesco, que passa por representatividade, sentimento de pertencimento e orgulho. Então se você ler e não achar tudo isso, tá tudo bem.
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Os grandes poetas: Gonçalves Dias, Pablo Neruda, Vinicius de Moraes, Florbela Spanca.
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Por fim, outro livro que vou levar pra vida é: “Leon Esteve Aqui” — Maikel Rosa.
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P7 — Você disse que a Literatura é uma extensão da sua vida… Essa extensão é só na leitura ou é na escrita também?
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R7 — Literatura sempre será um vício do qual não pretendo me curar. Como disse, livros são meus veículos para outras vidas, outros mundos, a ampliação do meu horizonte.
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E eu acredito que seja um caminho natural para todo leitor compulsivo, se enveredar pelo caminho da escrita.
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A minha primeira experiência na escrita foi a poesia e como disse, há sentimentos que só consigo expressar através de poemas.
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Isso é tão sério que várias vezes eu tenho que apresentar meus textos para minha terapeuta, por não conseguir colocar em palavras o que estou sentindo.
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Além da poesia eu também escrevo contos, crônicas… infelizmente são textos grandes demais para publicar no Instagram.
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Partindo desta dificuldade de publicar nessa plataforma e sendo incentivada por alguns amigos daqui, o plano para esse ano é publicar, no mínimo, dois contos (terror e outro sci fi) e concluir um romance.
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P8 — Em relação aos textos grandes demais, você já pensou em escrever em outras plataformas, como por exemplo, blogs?
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R8 — Há muito tempo atrás, eu publicava no site “Recanto das Letras”. No início foi muito legal, descobri gente de talento e fiz grandes amizades e foi lá que encontrei o meu atual marido.
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Quando engravidei, dei um tempo nas publicações e quando voltei para a plataforma ela não fazia mais tanto sentido e foi assim que vim parar no Instagram.
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Quanto a ter um blog, é um desejo que vem crescendo e com certeza vou acabar me rendendo a ideia. Então quando ele nascer, vou te contar com certeza.
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P9 — Você falou ali que foi um caminho natural da leitura para a escrita, e que já está escrevendo um romance, e isso? Conta mais sobre esse romance…
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R9 — A história está ainda muito embrionária no quesito da escrita, mas tenho toda a parte da descrição dos personagens, suas motivações, os dilemas, dificuldades, o local que se passa a narrativa, já escrito. Todo o enredo está prontinho na minha cabeça, seu início, meio e fim.
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Só estou tomando todos os cuidados para que, ao transportar o drama para o papel, ele não perca a beleza e o encanto que me convenceram a escrevê-lo.
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Então estou pesquisando a história da cidade em que o romance se passa, pois os acontecimentos que determinarão o destino da cidade, é o que vai unir ou separar o casal;
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Também tem a preocupação com os personagens secundários, e há também muita pesquisa sobre a linha do tempo, pois grande parte dos acontecimentos se passa entre as décadas de 80 e 90 e isso é importante, pois não poderei usar recursos como celulares e internet, as músicas também serão daquela época, fatores como economia, política e entretenimento precisam ser fiéis a época.
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Enfim eu não quero que detalhes como mencionar um filme ou música que não correspondam a linha do tempo em que se passa o romance, interfira no prazer da leitura.
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Se fosse uma ficção eu talvez tivesse mais liberdade. E após terminar eu quero que o livro tenha um tempo de gaveta. Então é muito provável que eu não publique esse ano.
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Mas para conter o impulso de publicar, eu vou escrever uns dois contos e publicá-lo ainda neste ano.
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P10 — Muito bom conhecer sobre seu livro de romance!!! E sobre o Terror e o Sci-fi… como estes gêneros literários entraram na sua escrita?
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R10 — Na adolescência eu consumia muito terror.
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Livros como “Drácula” de Bram Stoker, “Frankenstein” — Mary Shelley, “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson, eram livros de cabeceira.
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Já a ficção científica estava pouco presente nas minhas leituras. Embora eu tenha paixão pelas histórias do Júlio Verne.
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Lembro que quando terminei a leitura do livro: “Da terra à Lua”, eu tive um sonho que a terra estava implodindo, isso mesmo, o chão estava sendo sugado para o centro da terra, e eu sabendo do lançamento do projétil à lua, eu corria e chegava até onde o canhão estava, não sei se você já leu o livro, mas tem umas ilustrações do projeto, e numa delas tem um gordinho entrando no projétil, e no meu sonho os cientistas estavam lá dentro e eu conseguia entrar um minuto antes do lançamento e lá dentro a gente tinha o desafio de transformar aquilo numa nave espacial, para continuar orbitando a terra, foi um sonho muito louco. kkk
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Enfim, depois desse meu contato com o genial Verne, a ficção científica voltou a entrar na minha vida através dos #saifersbr, essa galera que escreve ficção de um jeito gostoso, convincente e de uma forma que só vi no cinema, tanto que muito livros que li deles, dariam ótimas adaptações para telona
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P11 — Adriana, como é teu processo e rotina de escrita? Como você escreve? Você separa um tempo no dia, ou algum dia na semana?
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R11 — Eu sempre gostei de escrever na madrugada, quando não há interrupções. O silêncio sempre foi muito inspirador, principalmente para poesia.
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E agora com um filho de 9 anos, skatista, praticante de parkour, e com uma rotina imposta pela pandemia em que todos estão em casa o tempo todo, só sobrou as madrugadas para escrever.
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Isso me dá uma jornada de 4 a 5 horas de sono por dia, todos os dias, inclusive sábados e domingos.
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Mas de repente vem uma inspiração que me obriga a parar e escrever, por isso tenho sempre uma agenda e um caderno de anotações por perto.
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Já tentei usar apps de escrita, gravar áudios com resumo das ideias, mas até o momento não me adaptei ao digital, para anotar as ideias e inspirações. Essas eu gosto de escrever à mão no papel.
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Por enquanto é assim que está se desenrolando, pois é a primeira vez que me comprometo com projetos de escrita.
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P13 — E a fotografia, Adriana? Qual a tua relação com esta forma de Arte?
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R13 — Guri, é a primeira vez que me perguntam isso e é a primeira vez que penso sobre.
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Acho que a minha paixão por fotografia começou quando criança, quando eu tinha acesso a imagens de parentes e eventos familiares somente por monóculo, para quem não conhece é um artefato que abriga o negativo de um filme fotográfico e possui uma abertura pela qual você coloca o olho e consegue enxergar a imagem com ajuda da luz.
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Melhor dá um google ou você coloca a imagem para os menores de 40 anos descobrir esse avanço tecnológico da época. (rindo muito)
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Mas enfim, eu me encantava com a possibilidade de ter um momento no tempo e espaço congelado para sempre.
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Eu adorava ver fotografias, invejava quem tinha uma máquina fotográfica e aos 14 anos quando fui perguntada sobre o que queria de presente, eu fui irredutível, queria uma máquina fotográfica ou nada. Abri mão da festa de 15 anos em prol de ter a minha máquina fotográfica. E desde então, a fotografia é mais que um hobby, é uma grande paixão.
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O perfil: Olhos de Turista, nasceu dessa minha paixão por fotografia com uma pitada de provocação aos paulistanos que possuem uma riqueza histórica, arquitetônica e cultural e a maioria não tem ciência disso.
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As pessoas por aqui passam todos os dias por lugares que foram palco de acontecimentos históricos, trabalham em prédios centenários e não conseguem perceber o quanto são privilegiadas.
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Eu durante anos amei e cultuei São Paulo, por fotos em livros de história e com a internet nos anos 90 eu emocionada conseguia visitar alguns lugares e museus, e quando cheguei em Sampa, ouvi de pessoas que nasceram aqui que nunca tinham visitados esses lugares.
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Um exemplo é o Largo da Memória que fica na Rua Xavier de Toledo, ao lado do metrô Anhangabaú no Centro de São Paulo. Ele é um dos pontos turísticos mais antigos da cidade. O Obelisco que se encontra ali é o primeiro monumento de São Paulo e a grande maioria das pessoas que passam por ele não sabem disso.
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Sei que é muito clichê, mas fotografar é para mim a oportunidade de eternizar um momento, contar uma história, perpetuar o belo e escapar do efêmero.
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P14 — Adriana, uma última pergunta, que não é tão pergunta assim, rsrsrs, é mais um agradecimento. Obrigado por topar participar dessa entrevista, pela sua disponibilidade e paciência. Agora esse espaço é seu, fique a vontade para mandar seus recados.
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R14 — Em primeiro quero agradecer imensamente o convite, dizer que me senti honrada por ocupar o mesmo lugar que me apresentou a pessoas incríveis como o Maikel, Leonardo Born, Liliane, Dani e Thiane.
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De todas as entrevistas que acompanhei, mencionei esses, pois além de serem pessoas que admiro muito a inteligência e talento, se tornaram grandes amigos.
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E se for para mencionar paciência, eu saio daqui em débito contigo, pois me lembro que me convidou pela primeira vez em novembro de 2020 e eu declinei do convite pois estava organizando uma viagem de férias e o meu casamento que aconteceriam no início de dezembro.
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Prometi que voltava a conversar sobre o convite quando voltasse, o que não ocorreu. E depois deste houve mais dois convites antes que finalmente aceitasse participar. Em minha defesa reafirmo o que eu disse no início: ainda não me sinto à altura, mas mesmo assim, foi uma grande honra.
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E por fim, quero agradecer quem teve a paciência de acompanhar as minhas histórias. Obrigada de coração a todos vocês.
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*https://robertomarinho.globo.com/empresas/consolidacao-fundacao-roberto-marinho/ — 7º e 12º slides

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